quinta-feira, 3 de maio de 2012

Texto para reflexão


EDUCAÇÃO INFANTIL E DESEMPENHO
Fernando Veloso
O ensino infantil de qualidade pode aumentar a eficiência escolar e reduzir a desigualdade social
EXISTE GRANDE interesse entre pesquisadores e gestores em entender como a educação infantil pode contribuir para melhorar o desempenho escolar. A literatura acadêmica mostra que a educação infantil pode gerar vários benefícios.
Por exemplo, pesquisas em neurociência mostram que o aprendizado é mais fácil na primeira infância que em estágios posteriores. A educação infantil também pode contribuir para o estímulo de certas características de comportamento e traços de personalidade, como sociabilidade, autoestima, persistência e motivação.
Vários estudos mostram que essas características melhoram o desempenho educacional. Além disso, reduzem a probabilidade de envolvimento com drogas e atividades criminosas. Em razão dessas evidências, vários países têm elevado os investimentos na educação infantil e atribuído importância crescente a esse nível de ensino no sistema educacional.
No Brasil, várias mudanças na legislação foram efetuadas com essa finalidade desde a década de 1990.
Nesse período, a educação infantil foi incorporada ao nível da educação básica e passou a contar com uma importante fonte de financiamento, com a criação do Fundeb, em 2007. Além disso, a emenda constitucional 59/2009 estabeleceu a obrigatoriedade do ensino para todas as crianças a partir de quatro anos.
Um estudo recente da Fundação Carlos Chagas mostrou, porém, que a qualidade da educação infantil no Brasil é muito baixa. A pesquisa avaliou a qualidade do ensino infantil em Belém, em Campo Grande, em Florianópolis, em Fortaleza, no Rio de Janeiro e em Teresina. Tanto na creche como na pré-escola, a média geral foi um pouco acima de 3, correspondente ao nível básico, em uma escala na qual o menor nível era inadequado (pontuação entre 1 e 3) e o nível máximo era excelente (8,5 a 10).
Entre as áreas avaliadas, as atividades desenvolvidas com as crianças tiveram a pior avaliação, sendo classificadas no nível inadequado. A estrutura do programa, que estabelece as rotinas diárias, também teve uma pontuação muito baixa.
Nesse contexto de baixa qualidade dos serviços prestados, é pouco provável que a expansão da oferta de educação infantil no Brasil tenha os efeitos desejados. Para que a educação infantil possa melhorar significativamente o desempenho escolar, é necessária uma combinação de características, como mostram várias pesquisas.
Primeiro, os professores devem receber treinamento intensivo e possuir formação específica para lecionar no segmento de educação infantil. Outra característica importante é um baixo número de crianças por professor, para permitir que os professores dediquem uma atenção diferenciada para cada criança. Além disso, é preciso que as atividades diárias sejam guiadas por uma estrutura curricular específica para essa faixa etária.
Finalmente, é muito importante que os pais sejam envolvidos na educação de seus filhos. Nesse sentido, a creche ou a pré-escola não devem ser vistas como um substituto da família, mas como uma ferramenta complementar na construção de um ambiente de aprendizado estimulante para as crianças.
Pelo fato de serem intensivos e se caracterizarem por turmas pequenas e professores com treinamento específico, os programas bem-sucedidos de educação de primeira infância em geral são mais caros que as alternativas tradicionais.
Portanto, será um grande desafio expandir o acesso à educação infantil no Brasil com o nível de qualidade necessário. Uma boa notícia é que vários estudos mostram que seus benefícios são muito superiores aos seus custos.
Além disso, a oferta de ensino infantil de qualidade tem se mostrado eficaz para melhorar o desempenho escolar de crianças criadas em ambientes socioeconômicos muito desfavoráveis. É um exemplo raro de uma política pública que pode ao mesmo tempo aumentar a eficiência e reduzir a desigualdade social. Não vai ser fácil, mas é um desafio que é muito importante enfrentar.

FERNANDO VELOSO, economista e professor do Ibmec/RJ,

Abaixo-assinado pela unificação da carreira

Assinem o abaixo-assinado pela unificação da carreira. A abrangência é nacional, portanto divulguem para todos. A educação infantil exige o fim da discriminação a esta etapa da educação básica.

http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2012N23660